Motoristas europeus: entre números preocupantes e a urgência de mudança

  • 19 de Julho, 2025
  • bserrano
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O setor dos transportes rodoviários é um dos pilares invisíveis da economia europeia. Todos os dias, milhares de motoristas de camião cruzam fronteiras, atravessam cidades e percorrem quilómetros incalculáveis para garantir que os produtos chegam a tempo ao destino: alimentos frescos aos supermercados, medicamentos às farmácias, peças para fábricas, encomendas para as famílias.

No entanto, apesar da sua importância crucial, esta profissão vive um momento preocupante. A escassez de motoristas, o envelhecimento da força de trabalho, as condições físicas exigentes e a dificuldade em atrair jovens e mulheres estão a levantar bandeiras vermelhas por toda a Europa. Não se trata apenas de um problema para empresas de transporte — trata-se de uma questão que afeta diretamente todos nós, consumidores e cidadãos.

Neste artigo, vamos explorar em profundidade os números que desenham o retrato atual dos motoristas europeus. Mais do que estatísticas, queremos ajudar a entender os desafios reais por trás do volante: quem são estas pessoas, o que enfrentam no seu dia a dia e porque precisamos, urgentemente, de olhar para esta profissão com mais respeito, reconhecimento e soluções.

Estatísticas sobre motoristas na Europa

Segundo a International Road Transport Union (IRU), em 2024 havia cerca de 3,5 milhões de motoristas profissionais de transporte rodoviário de mercadorias na Europa. Este número, à primeira vista impressionante, esconde um problema crónico:

  • Falta de motoristas: estima-se que faltem atualmente mais de 500.000 motoristas para cobrir as necessidades do setor. Em países como Alemanha, França e Polónia, empresas relatam dificuldade crescente em contratar novos condutores.
  • Idade média elevada: a idade média dos motoristas na União Europeia ronda os 48 a 50 anos. Em muitos países, mais de 30% dos condutores têm mais de 55 anos — o que significa que, nos próximos 10 a 15 anos, uma grande parte estará em idade de reforma.
  • Pouca renovação geracional: menos de 5% dos motoristas têm menos de 25 anos. Ou seja, há um fosso geracional preocupante: os jovens não estão a entrar nesta profissão.
  • Presença feminina mínima: apenas cerca de 3% a 4% dos motoristas de pesados são mulheres. Apesar de alguns programas de incentivo, o setor continua fortemente masculino.
  • Carga horária exigente: em média, um motorista internacional percorre 100.000 a 130.000 km por ano, trabalhando muitas vezes perto do limite legal de horas semanais (geralmente 56 horas, com regras específicas para pausas e descansos).
  • Condições de trabalho: 70% dos motoristas referem sentir falta de zonas de descanso seguras e limpas na Europa, obrigando-os muitas vezes a pernoitar em locais pouco adequados.
  • Salários desiguais: os salários variam brutalmente. Um motorista na Europa Ocidental (Alemanha, Bélgica, Países Baixos) pode ganhar entre 2.500€ e 3.500€/mês brutos, enquanto em países da Europa de Leste (Polónia, Roménia, Bulgária) os valores rondam muitas vezes os 600€ a 1.200€/mês.
  • Impacto climático: o setor do transporte rodoviário representa cerca de 25% das emissões de CO₂ do transporte europeu, pressionando governos e empresas a investir em soluções mais limpas — algo que, no entanto, recai também nas mãos dos motoristas.

O que estes números nos dizem

Olhando para estas estatísticas, não podemos ignorar que o setor dos motoristas na Europa está num ponto crítico. A falta de renovação geracional não é apenas um número: significa que, daqui a poucos anos, poderemos ter camiões parados por falta de pessoas para os conduzir.

Os jovens afastam-se desta profissão não só pelo esforço físico e mental exigido, mas também pelas condições de trabalho muitas vezes ingratas — longas horas na estrada, noites mal dormidas em parques pouco seguros, e um reconhecimento social que nem sempre acompanha a importância real do seu trabalho.

A quase ausência de mulheres no setor revela outro desafio: há barreiras culturais e práticas que tornam difícil diversificar esta profissão. Ao mesmo tempo, os salários desiguais entre países reforçam uma Europa a duas velocidades, onde empresas do Oeste dependem, muitas vezes, de motoristas do Leste dispostos a aceitar menos para fazerem o mesmo.

Por fim, a pressão ambiental está a chegar à boleia: a transição para frotas mais limpas é urgente, mas não pode ignorar o impacto direto na vida e nas rotinas dos motoristas.

Se queremos garantir o futuro do transporte rodoviário, precisamos não só de camiões mais verdes, mas de condições mais justas e humanas para quem segura o volante. Não é apenas uma questão de logística — é uma questão de dignidade.